FRANCISCA PORTUGAL


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Da mesma forma que numa história de suspense nos deparamos com sinais de aproximação e recuo da descoberta do enigma, o labirinto representa a materialização desta mesma cadência. Se imaginarmos uma simplificação da narrativa, a sua definição visual não traçaria um desenho reto mas sim um esquema complexo onde estradas cruzam, becos sem saída aparecem e encruzilhadas levam de novo ao ponto de partida. Um caminho de várias hipóteses onde há apenas uma entrada (ou uma intriga) e uma conclusão (ou o descoberta de um segredo).

Quando olhamos para este trabalho site-specific da artista Leonor Sousa, encontramos várias pistas que vão surgindo nos corredores deste enredo e que eventualmente nos empurram, através de um história especulativa, para uma dimensão abstracta e reflexiva. Neste caso, um lugar de ação dupla: não só encaminha como também desorienta quem o percorre. Sendo o labirinto o lugar de encontro com o próprio caminho, qual é então o fascínio da artista em construí-lo?

Através da pintura, desde os últimos anos, Leonor Sousa transpõe para as suas composições um mapa onde, a partir de linhas, muitas vezes vermelhas, cria um ponto de atenção ao mesmo tempo que guia o leitor na interpretação da paisagem. “O Enredo” é o jogo proposto por este cenário pictórico, onde a criação de percursos será necessária à sua concretização tridimensional. Assim, o público envolve-se na sua narrativa, enquanto os caminhos desenhados influenciam a percepção colectiva do espaço e convidam, a quem observa, a encontrar o prazer da viagem até ao destino final. Com esta instalação, as dimensões do espaço e tempo vêem-se encapsuladas dentro do labirinto, de modo a que a ideia da viagem seja o seu principal objectivo, tornando o fim e o início meros pontos cartográficos.

Este labirinto serve também de metáfora, como interpretação do percurso da Leonor enquanto artista. Este é um tema subentendido na sua prática e ainda mais no seu discurso, no qual reflete uma representação da sua geração de artistas em Portugal. O valor do processo de criação está mais presente do que a concretização de peças e exposições. Este ponto de vista crítico está subjacente a uma vulgarização da prática artística, acessibilidade de técnicas e materiais, a uma pressão constante de produtividade e comercialização da arte. A própria produção convoca, neste contexto, o pensamento sobre o espaço de trabalho diário em atelier, resgatado, incorporado e transformado-o na trajetória que Leonor Sousa nos propõe. A artista incita-nos, deste modo, a abdicar da passividade a favor de uma ação transformativa da realidade de cada um.