TEXTO - CAMPO DE TRABALHO [ – Ninguém trabalha amanhã! – Ninguém! ]
09.2022
09.2022
O trabalho apresentado por Maura Grimaldi em CAMPO DE TRABALHO [ – Ninguém
trabalha amanhã! – Ninguém! ] não é uma novidade, no sentido em que o tema e o seu
formato têm já vastos precedentes orgulhosamente manipulados e transformados. A
obra, que orbita entre a instalação e a performance, dá conta da palavra USO num
duplo sentido, sendo ativada quando é vestida (usada no corpo) e ao mesmo tempo
usada pela ação humana e as suas inevitáveis marcas (que gastam o objeto). A cadeia
de acções organizadas pelu artista, da qual CAMPO DE TRABALHO [ – Ninguém
trabalha amanhã! – Ninguém! ] está inserida, tem como base ideológica a frase grevista
da escritora e ativista brasileira Pagu, utilizando-a em t-shirts impressas com umas das
suas frases emblemáticas:
Ninguém trabalha amanhã! Ninguém!
Tomado pelu artista por um símbolo de um conjunto alargado da sua prática artística, este grito de protesto de Pagu, ecoa no trabalho tal como se alguém segurasse no megafone e gritasse ininterruptamente: Ninguém trabalha amanhã!, e o protesto responde em uníssono: Ninguém!. Grimaldi critica esta repetição de um ponto de vista capitalista através da banalização da Luta, já descontextualizada em merchandise, acabando por se tornar tão desmistificada que ganha o lugar de um logotipo. Com a inevitável capitalização destas palavras de empoderamento, Maura procura a agitação da objetificação de Ninguém’s! em t-shirts brancas de má qualidade e de impressão barata. Ao reproduzir às centenas as camisetas em que, no lugar do logotipo, se encontra a frase de Pagu, procura um equilíbrio subversivo dessa realidade, oferecendo-a a amigos e outros que encontra no seu percurso académico e profissional. O seu objeto artístico tem, neste sentido, por base, um “acontecimento vivo”, que pode ser vestido e ganhar uma utilidade performativa ativista conforme a experiência laboral, migratória…de cada usuário. O convite de vestir a camiseta, não só projeta a uniformização da indumentária dos trabalhadores, mas, em simultâneo, a sua insubmissão, ao criar uma espécie de farda de protesto. A repetição, não só da frase, mas da multiplicidade de usuários, é importante para o sentido interventivo da peça e da sua transição entre vários tipos de utilizador. Foi num contexto de trabalho (protesto) que entrei pessoalmente em contacto com esta realidade , em ambiente de trabalho-residência, onde se iniciou outra etapa do processo de CAMPO DE TRABALHO. Este projeto surgiu em coautoria com sua mãe que costuma utilizar a camiseta no seu contexto laboral (o órgão federal de segurança social no Brasil). Na residência, foi apresentado o lugar onde Maura investigou, escreveu, registou, pintou e fotografou o seu espaço de trabalho. Para a ocasião foram apresentadas quatro ações que questionavam e protestavam sobre a precarização e fragilidade da produção artística. Assim, foram contratados um substituto de artista, uma namorada e uma consultora para acompanhamento crítico.
A ação final aconteceu no mesmo dia em que se fechava o ciclo da residência, em que foi organizado um evento paralelo à festa de encerramento: um piquenique entre aqueles que dispunham da t-shirt. O encontro pôs termo a esse período laboral, mas também o de outra alínea do seu trabalho artístico, contando com cerca de 30 pessoas, em que todas vestiam a camiseta num suposto dia de lazer. Agora, os dois manequins vestem as roupas de duas pessoas que estiveram presentes nesse grupo de confraternização de camisetas. A vitrine do Kubikulo é, então, uma amostra dos usuários que USARAM a camiseta que, de forma irónica, assumem o formato da montra de uma loja com todos os acessórios complementares, tal como no dia de celebração. Com a ideia da documentação de um momento, transposta para outro contexto e outra localização, Grimaldi propõe-se como vitrinista de uma ocasião passada. A montra para a rua é, não só, a demonstração da possível camuflagem do ativismo com mecanismos do capitalismo numa perspectiva onde combina a ironia, o sistema da moda e a sua prática artística comunitária. CAMPO DE TRABALHO [ – Ninguém trabalha amanhã! – Ninguém! ] é um convite a imaginar o contexto anteriormente criado e encontrar, como público, o desafio para o reativar.
Ninguém trabalha amanhã! Ninguém!
Tomado pelu artista por um símbolo de um conjunto alargado da sua prática artística, este grito de protesto de Pagu, ecoa no trabalho tal como se alguém segurasse no megafone e gritasse ininterruptamente: Ninguém trabalha amanhã!, e o protesto responde em uníssono: Ninguém!. Grimaldi critica esta repetição de um ponto de vista capitalista através da banalização da Luta, já descontextualizada em merchandise, acabando por se tornar tão desmistificada que ganha o lugar de um logotipo. Com a inevitável capitalização destas palavras de empoderamento, Maura procura a agitação da objetificação de Ninguém’s! em t-shirts brancas de má qualidade e de impressão barata. Ao reproduzir às centenas as camisetas em que, no lugar do logotipo, se encontra a frase de Pagu, procura um equilíbrio subversivo dessa realidade, oferecendo-a a amigos e outros que encontra no seu percurso académico e profissional. O seu objeto artístico tem, neste sentido, por base, um “acontecimento vivo”, que pode ser vestido e ganhar uma utilidade performativa ativista conforme a experiência laboral, migratória…de cada usuário. O convite de vestir a camiseta, não só projeta a uniformização da indumentária dos trabalhadores, mas, em simultâneo, a sua insubmissão, ao criar uma espécie de farda de protesto. A repetição, não só da frase, mas da multiplicidade de usuários, é importante para o sentido interventivo da peça e da sua transição entre vários tipos de utilizador. Foi num contexto de trabalho (protesto) que entrei pessoalmente em contacto com esta realidade , em ambiente de trabalho-residência, onde se iniciou outra etapa do processo de CAMPO DE TRABALHO. Este projeto surgiu em coautoria com sua mãe que costuma utilizar a camiseta no seu contexto laboral (o órgão federal de segurança social no Brasil). Na residência, foi apresentado o lugar onde Maura investigou, escreveu, registou, pintou e fotografou o seu espaço de trabalho. Para a ocasião foram apresentadas quatro ações que questionavam e protestavam sobre a precarização e fragilidade da produção artística. Assim, foram contratados um substituto de artista, uma namorada e uma consultora para acompanhamento crítico.
A ação final aconteceu no mesmo dia em que se fechava o ciclo da residência, em que foi organizado um evento paralelo à festa de encerramento: um piquenique entre aqueles que dispunham da t-shirt. O encontro pôs termo a esse período laboral, mas também o de outra alínea do seu trabalho artístico, contando com cerca de 30 pessoas, em que todas vestiam a camiseta num suposto dia de lazer. Agora, os dois manequins vestem as roupas de duas pessoas que estiveram presentes nesse grupo de confraternização de camisetas. A vitrine do Kubikulo é, então, uma amostra dos usuários que USARAM a camiseta que, de forma irónica, assumem o formato da montra de uma loja com todos os acessórios complementares, tal como no dia de celebração. Com a ideia da documentação de um momento, transposta para outro contexto e outra localização, Grimaldi propõe-se como vitrinista de uma ocasião passada. A montra para a rua é, não só, a demonstração da possível camuflagem do ativismo com mecanismos do capitalismo numa perspectiva onde combina a ironia, o sistema da moda e a sua prática artística comunitária. CAMPO DE TRABALHO [ – Ninguém trabalha amanhã! – Ninguém! ] é um convite a imaginar o contexto anteriormente criado e encontrar, como público, o desafio para o reativar.
